Luxo é sobre elevar a vida em si, por Mari Ribeiro
Bloco de notas: Reflexões, descobertas e pensamentos soltos — do meu olhar para o seu
Na Herança Cultural, entre peças que contam histórias e atravessam o tempo, pensei no quanto o luxo tem sempre mais a ver com profundidade do que com excesso.
“Luxo é sobre elevar a vida em si.” Essa frase encerrou um encontro recente e intimista com alguns clientes do iLove.e e ficou ecoando em mim. A conversa, liderada pela nossa parceira e pesquisadora de consumo Carol Soares, girava em torno das grandes (e algumas mesmo novas) tendências que vêm moldando o universo do luxo: wellness, propósito, tecnologia, entretenimento, experiências — mas foi essa frase que ficou. Como se ela, sozinha, dissesse mais do que qualquer relatório de comportamento.
Lembrei que, durante a pandemia, comecei a compartilhar meus “favoritos do mês” nos stories (hoje eles são posts no feed, que sempre trago no final dessa newsletter) como uma forma de guardar os pequenos acontecimentos que me despertavam interesse naqueles dias. Era quase uma tentativa de ancoragem, de lembrar que uma cena marcante de um filme, uma frase inspiradora ou um novo interesse por culinária poderia mudar o meu dia dia — e às vezes, o mês inteiro. E é curioso como isso se conecta, em um extremo oposto, com um assunto que tem me atravessado e sobre o qual falei um pouco na última newsletter: a nossa dificuldade em sentir.
A era em que estamos — da velocidade, dos hiperprazeres — nos viciou em intensidade. Queremos tudo rápido, forte, imediato — e esquecemos do luxo que é perceber. Tem uma reflexão da Fabi Secches, feita no ótimo episódio sobre o filme Dias Perfeitos no podcast Palavra e Imagem, que ela conduz com a jornalista Paula Jacob, e ficou comigo desde a primeira vez que a ouvi: “É como se nosso paladar emocional fosse anestesiado pelo excesso. Vivemos em busca de estímulos constantes e, com isso, perdemos a sensibilidade para as emoções mais singelas.”
Lendo recentemente o ensaio “Uma rota surpreendente para a melhor vida possível” (em tradução livre) do jornalista David Brooks no New York Times — que descobri pela newsletter, da educadora de arte Gisela Gueiros — fui atingida por uma ideia que se conectou com tudo isso: o que dá densidade à vida é a entrega — com curiosidade e desejo — a algo que nos toque e nos mobilize de verdade.
Talvez o luxo mais raro hoje seja se permitir (e conseguir) se apaixonar. Não por alguém — mas por algo. Um projeto que exige paciência. Um ofício que pede atenção. Um processo que atravessa o tédio e encontra beleza na repetição. O mundo atual, com sua rapidez e constante estímulo, nos empurra pra distração — e a paixão, ao contrário, pede foco. Pede presença. É nela que mora um tipo de luxo silencioso: o de se deixar ser sacudido, despertado, transformado. Amar o que é difícil. Persistir no que exige de nós. Esse envolvimento profundo com algo, mesmo que pequeno, cria um sentido que nenhuma tendência consegue substituir.
O luxo, então, se torna menos sobre o que se tem e mais sobre como se vive. A intenção nas escolhas. O valor de se encantar e querer trazer para dentro de casa um objeto com uma história que te impressiona, de viver uma nova emoção decorrente de uma experiência de realização pessoal, de sentir a paz de espirito que origina de uma devoção ao que faz sentido pra gente. Talvez, no fim, luxo seja isso: cuidar daquilo que nos importa. E cultivar — com tempo, presença e paciência — o que nos mantêm vivos por dentro.
Meus favoritos
O “Favoritos da Mari” é um calendário reverso de coisas especiais que marcam os meus meses, memórias e vivências que valeram o meu tempo — esse, tão em falta, mais do que nunca. Trazê-lo quase mensalmente no Instagram acaba me fazendo resguardar tudo isso de uma forma mais palpável. Compartilho agora ele aqui também <3
seu texto ressoou tanto comigo - as always ❤️